Tuesday, June 27, 2006

ricos são os sós

Todos os filmes alternativos se baseiam na solidão. Há um personagem que vive num estúdio de paris. Acorda de manhã inundado de luz. Revira-se na cama, mal embrulhado nos lençóis, a espinha em relevo nas costas, muito magras. Disto tudo, o que me oferece maiores dúvidas é a possibilidade de um personagem principal de um filme alternativo, que tem que ser de esquerda e, pior que de esquerda, tem mesmo que ser pobre, alugar um estúdio em paris. Será que alguém sabe quanto custa alugar um estúdio nestas cidades? É um salário médio Português, só em renda. Quem é sofisticado, tem que partilhar casa com pessoal de leste. Não dá para estar sozinho. A pobreza e a solidão são mutuamente exclusivas.

Monday, June 19, 2006

Enterro

As minhas histórias acabam sempre com alguém que morre. Não acabam, mas deviam.

Tuesday, June 13, 2006

Sísifo

Uma das cláusulas mais bem escondidas deste contrato é que trabalhar empobrece. Por mais dinheiro que ganhemos, não recuperamos a capacidade de estremecermos nas duas pontas de um relacionamento amoroso: no começo e no fim. A alegria e a tristeza concentram-se, amassam-se, cabem dentro de uma mão e atiram-se para longe porque precisamos de parecer bem. E ficamos bem. Dizem que não, que isto é tudo parte do crescimento, porque se recusam a ponderar o tanto que perdemos - é inimaginável. O silêncio dos labirintos, a luz numa clarabóia de um prédio abandonado em Lisboa, as seis da tarde (a luz desaparece devagarinho, mas ainda não é noite). Nunca mais.

O pior é que, por mais anos que trabalhemos, não conseguimos pagar os anos que trabalhamos.

Thursday, June 01, 2006

um apontamento

Como já não sei escrever, podia ler. Como já não sei ler, penso.

E olho. Olho aquilo que não consigo ver. Mantenho os olhos invisíveis.